Ao fim do dia, ela decidiu ir tomar um café... os guizos do umbrau da porta logo anunciaram que ela adentrava em seus saltos altos, finos e pretos...
A mulher branca sentou-se e cruzou as pernas por fora da saia, desnudando a brancura das coxas e panturrilhas sob a saia preta.
O homem preto sorriu com dentes muito brancos e acomodou a mão grande, aberta e preta sobre a toalha branca, dedilhando.
A mulher ficou ruborizada ao sentir-se despida por aquele sorriso, imaginando aquelas mãos pretas desbravando suas curvas de carne branca. De nervoso cruzou e descruzou mais algumas vezes suas alvas pernas - alvo.
O homem preto continuava encantado e hipnotizado a distância, quando pediu ao balconista – Por favor, um café preto! No copo - confirmou, logo depois.
A mulher branca riu por dentro, da redundância, de decepção pediu em seguida um café expresso, - Puro! – precisou reafirmar o que já achava óbvio no pedido.
Logo chegou a decepção da mulher branca, uma mulata que o homem preto aguardava. Ele ficava tentando dar atenção as duas, um olho no leite, outro na gata parda.
Então, o homem preto precisou se acalmar, pois se soubesse que encontraria aquela mulher branca ali, nunca teria marcado o encontro com a outra. Estava fascinado pela branca, mas não poderia ser grosseiro com a mulata. Então mergulhou os lábios rosados por dentro e pretos por fora no leite branco espumante, sorvendo tudo como se sorvesse a sonhada pele da mulher branca, daquela tarde que surgia tardiamente em sua vida.
A mulher branca em meio às chamas do peito, não tinha mais o que fazer ali, então partiu sentindo que deixava algo pra trás.
A noite ela dormia acordada ao lado de seu marido branco.
A noite ela dormia acordada ao lado de seu marido branco.
O homem preto depois de duas infelizes tentativas de saciar o desejo, e por que não? Encontrar a mulher de sua vida... Tentava inutilmente dormir ao lado da mulher preta cor de grãos de café.
Naquela noite, em cada lado da cidade o homem preto e a mulher branca sonharam em preto e branco. Ele nela. Ela nele.
Pela manhã branca...
O homem preto pensou na mulher branca, em frente ao espelhou se empolgou, se empolgou... um exato minuto depois, derramou assim o líquido branco, banhou-se, perfumou-se e vestiu seu uniforme branco e foi trabalhar.
A mulher branca vestiu seu uniforme preto de todos os dias cinzentos, mas desta vez tinha um propósito mais nobre - enterrar o marido.
Ao fim do dia, ela decidiu ir tomar um café... sentou-se ao balcão e pediu – por favor, um café... preto! Sentiu o líquido quente e saboroso ser sorvido entre seus lábios acompanhado do aroma que envolvia todo o ambiente.
Instantes depois, porta se abria denunciada pelo tilintar dos guizos suspensos no umbrau, sapatos grandes largos e brancos adentravam...
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