terça-feira, 20 de novembro de 2012

" A Mulher que pisava em flores"





Florinda hoje caminha pelo jardim, literalmente sobre o jardim. Já é uma senhora idosa, mas pisa nas flores, não por não enxergar bem ou dificuldade na locomoção devido a idade...

Quando pequena, Florinda, chamada por todos de flor, florzinha pros íntimos, adorava ajudar no jardim, regando, cavando e acariciando as begônias, bromélias, hortênsias...

Só que sua irmã Florípedes desabrochou bela e continuou assim, ela não, se abriu sem graça, sem beleza notável. Desta maneira era Florípedes que recebia convites para sair, pedidos de namoro e ramalhetes de flores como – rosas vermelhas, amarelas, champanhe...

Florinda nunca recebeu flores, cresceu assim sem desabrochar pra vida, não namorou, já que nunca recebeu um pedido, um flerte, então se fechou flor, não se entregando para ninguém, guardou-se fechada sem beija-flor.

Enquanto dormia sonhava com o jovem cavalheiro que lhe bateria a porta com um belo ramalhete de rosas vermelhas repletas de paixão a sangrar os olhos, ou um singelo maço de delicadas flores do campo, algo bem humilde em sonho mais comedido e pedido divino mais modesto.

As  primaveras se foram e Florinda pereceu sem flores e sem entregar sua flor a ninguém, por isso hoje caminha pisoteando em passos tremidos com o auxilio da bengala de madeira sobre begônias, bromélias, hortênsias, azaleias...

Certa tarde inesperada tempestade de vento se manifestou pegando todos desprevenidos nas ruas, Florinda apertou o passo dentro do possivel. Chegando bem a tempo da chuva que estava por vir se prostrava em frente a porta de seu prédio, sorriu feliz para seu reflexo na porta de vidro da portaria, com a expressão de missão, massacre e dever cumpridos

Antes que o porteiro pudesse abrir... uma floreira de madeira desvairada derrubada pelo vento composta por três vasos bem encaixados de cores distintas de flores acertou a cabeça de Dona Florinda fatalmente. 

Depois de séria investigação, ninguém conseguiu descobrir o proprietário da floreira certeira, há quem diga que não havia dono, e que tal armamento havia sido enviado celestialmente.

Hoje... misteriosamente, Dona Florinda que não tinha mais parentes e tampouco amigos sempre tem flores frescas em sua sepultura.

Begônias, hortênsias, bromélias, rosas, margaridas...