segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Meu Rei!"




Dispa-te das vestes!
Oh! Rainha das pestes!
És princesa, e o príncipe que destes...
A noiva esquecida
A fera adormecida
A bela entorpecida
A santa insana
A virgem imaculada
A flor prostituída
A fada enfurecida
Toda fodida
Princesa esquecida
A coroa caída
O trono manchado de sangue
Daqueles teus primeiros dias
És sacerdotisa
Musa/Cavaleiro/Noiva/Herói/Rainha
Sem armadura
Com envergadura
Sem vergonha dura!
É o cavalo branco dos teus doces sonhos
É a Besta/Fera coroada de hera
Vem de Avalon? ou do Reino das Águas Claras?
 Talvez um tanto turvas
Dispa-te das vestes e revele tuas cruas curvas 
Em leito real e em leite real
De mal e de mel
Espere pela abóbora carruagem de cristal 
e seus ratinhos a puxar
Beijo o príncipe 
Pra virar sapo
e... Despacho!





quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

“Cemitério de Borboletas”





Em algum lugar não muito distante daqui...

Havia um vasto cemitério de borboletas, e cada vez mais seu território se estendia, pois havia uma sepultura para cada borboleta que falecia. O hábito de enterrar borboletas com todos os merecimentos de “um alguém” de mérito se devia a cultura do lugar, a tradição que se passava de pai pra filho e assim por diante. Alguns questionavam, outros acreditavam, outros apenas obedeciam com medo da dúvida e do desrespeito.

Ali naquela Terra, as borboletas eram seres amados e encantados, além de encantadores, pois não faziam mal a ninguém, voavam, eram leves e coloridos. Reza a lenda que eram seres divinos que vinham para nos assistir, nos vigiar e nos proteger.

Logo, céticos, incrédulos e radicais, após inúmeras reuniões iniciaram um processo teórico a ser difundido velozmente, onde se defendia o desperdício de dinheiro e de terras, sem falar na pompa e no tempo gasto com os tais pequenos seres alados de cores.

Em pouco tempo se fazia um plebiscito pra se saber a opinião da maioria e o NÃO às borboletas vencia. Os mais velhos eram os mais difíceis de se convencer a perda do ritual, não necessariamente na fé. 

Aos poucos com o passar dos anos os rebeldes conquistaram uma a uma de suas idealizações, foram reduzindo os rituais de sepultamento até zero. Os cânticos de louvor, os livros, as histórias, que as cercavam, verdadeiras ou lendas que encantavam adultos e crianças. Com o passar do tempo eliminaram também os cemitérios para as borboletas e tal desperdício de terra com as pequeninas.

O tempo voava com asas e aos poucos o povo fez grandes conquistas, a economia prosperou, assim como a tecnologia se desenvolveu galopantemente, estavam mais centrados, mais focados "no bem" e "nos bens" daquele pequeno país.

Tão focados, aos poucos acharam de bom tom eliminar as flores que atraiam as borboletas, alguns grupos de extermínio também baniram aos poucos as borboletas, pois para nada serviam além de iludirem com asas e cores, prejudicando assim o desenvolvimento do progresso e do futuro econômico por fúteis distrações.

Se seguiu o tempo, com os jardins cimentados, soterrados, pessoas bem melhores de vida, um mundo cinza e sem cores, mas pessoas evoluídas, sem alegrias, sem ilusões, sem crenças, sem arte, porém com máquinas, muitas delas. Tudo aquilo fazia parte do passado e havia voado pra bem longe. 

O índice de depressão aumentava juntamente com o de suicídio e o de violência. Os relacionamentos não duravam mais e pais abandonavam filhos e filhos assassinavam país.

Um dia, a única menina que se sabe que ainda acreditava nas borboletas - A Encantadora de Borboletas - que conversava com elas, criava muitas delas em um quarto vazio, morreu porque um carro de design arrojado e equipamentos de ultima geração precisou passar onde ela estava. 

Do velho tumulo da menina pobre cheio de trincas nasceu flor e uma primeira borboleta colorida imigrante surgiu... assim parecia que as cores começavam a brotar borrando e se espalhando pelo planetinha cinzento...

Algumas pessoas largavam seus aparelhos pelo simples prazer de sentir o vento, outras tiravam as cores escondidas em seus armários, outras revelavam seus jardins ocultos e até suas proibidas criações de borboletas que a ditadura plumbea condenava e que agora começavam a ser libertadas, mas sabiam que não precisavam de cemitérios... e usavam menos farmácias, menos hospitais de uma sociedade doente.



A lenda saltava dos livros, batendo as asas, pulsando, viva... de cores e seguia pintando o tempo, enquanto a encantadora de borboletas assistia à tudo sobrevoando a nova cidade que começava a borboletear...