quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"20"



 (texto criado em 2.006 no antigo endereço do blog, 
em comemoração ao texto de número 20)

20 mil vezes vi
20 mil vezes mais ou menos
li e escrevi
as dinâmicas poeterias da vida
momentos videoclípticos
apocalípticamnte frágeis
formigas sob aranha-céus
multidões em caos
durante quase o mundo todo
sempre quase todo mundo
em seus apartheids de si mesmos
quando quase se chega ao fundo de tudo
há sempre um porém
quase sempre haverá alguém
mesmo que seja um só no mundo
para simplesmente estar em slow-motion
para a pura poesia da vida
algo que nasce-brota-medra
ou que se transforma
o transmutar da evolução
enquanto turistas fotografam
assassinos matam
pobres de alma roubam
paro para olhar as formigas que caminham
pacíficas-organizadas
sobreviventes de mais uma pisada
labutando labutando
porta-bandeiras
carregando folhas estandartes
poeteria pueril sob as nossas pegadas de cada dia
nossa crônica cruel e incurável
de não parar para ver as pequeninas coisas
ao invés dos out-doors
as entrelinhas
nas linhas da palma da mão
de nós formigas de Deus
da crônica da poeteria da vida
veni
vidi
vinci
(vim, vivi, venci)



domingo, 6 de fevereiro de 2011

"...em barco..."




...embarco

em... barco

barco de papel
papel parco
cada vez mais
em sonhos
faço dobraduras
origamis poligâmicos
de sapos, pássaros e casinhas
barquinho branco
navego notívago divago
molhando cada vez mais embarcação que bóia e afoga
afunda e mergulha barco frágil e solitário
se encharca e abarca desejosos sonhos secos
pensamentos oníricos a  dois
entre o Titanic e o SS Andrea Doria
com cenas em branco
aprecio leitosa paisagem em A4
eu... e Virginia, Woolf de mim


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Cindy Rolla e a Plataforma de cristal 44" - fabulosa fábula trans/sexy/pop/trash/fashion



 (publicado pela primeira vez em minha coluna, em site parceiro do cosmo Online)

Início - Para não começar esta encantadora anedota com um manjadíssimo – “Era uma vez” – vamos começar com algo assim como...

Sindyvaldo – nome de batismo, Sindyvaldo. Sim, Sindyvaldo! Vinte e quatro anos. Mais conhecido como Cindy. Cindy Crawford? Não! Cindy Rolla. Trabalha como “Faz tudo e mais um pouco” na casa da Megera. Sindyvaldo era o nome do pobre garoto filho de um líder sindical e criado pela megera e madrasta malvada (história extremamente original e criativa e para variar a jararaca tinha duas filhas por coincidência tão malvadas quanto a mãe).

Pai de Cindy e mauricinho revoltado parte I - um líder sindical, um mauricinho revoltado metido a comunista, que em sua primeira oportunidade registrou o filho com o tal nome Sindyvaldo. Só para deixar os pais burgueses com raiva e mostrar que ele estava abrindo mão do dinheiro da família e também do bom gosto (só usava sapatos Vulcabrás).

Tomoko - Mãe de Cindy – japonesinha e operária padrão, revoltada, largou a pastelaria do pai no bairro da Liberdade (que só usava massas Terra Branca) assim que se apaixonou pelo mauricinho revoltado numa passeata, morreu jovem e de desgosto, assim que Sindyvaldo nasceu e o pai voltou do cartório com a certidão exibindo o nome escolhido somente por ele, pobre mãe japonesinha que tricotava em casa, ao saber não teve dúvidas, pegou as agulhas de tricot e praticou o haraquiri (só tricotava com as linhas Cléa, Anne e Circulo).

Haraquiri - um dos mais intrigantes e fascinantes aspectos do código de honra do samurai: consiste na obrigação ou dever do samurai em suicidar-se em determinadas situações, ou quando julga ter perdido a sua honra. Significa literalmente "corte estomacal".

Pai de Cindy e mauricinho revoltado parte II – abalado e sentindo-se culpado, voltou a viver uma vida burguesa e seguindo conselhos do terapeuta da família, casou-se com Megera, uma sexy viúva.

Megera – Como era uma megera, logo tratou de se aproveitar da insanidade mental do ex-mauricinho revoltado e fez com ele assinasse vários papéis passando tudo que estava em seu nome para ela (como acontecesse facilmente em qualquer novelinha que tem por aí).

Conforme o Aurélio - Megera - 1. Mulher de mau gênio, cruel. 2. Mãe desnaturada. 3. Bruxa.

Pai de Cindy e mauricinho revoltado parte III – ao saber que estava na rua da amargura, revoltou-se novamente e se atirou na primeira passeata que passou. O problema é que não era uma passeata, era um desfile de 7 de setembro, ele revoltadíssimo e empolgadíssimo, acabou embaixo de um tanque militar, foi entregue a família em uma caixa de pizza delivery, sobre a qual Megera e suas duas filhas choraram prantos.

As Irmãs Malvadas / Filhas da Megera – atrizes, cantoras, bailarinas, modelos e malvadas. O sonho delas seria participar de um Big-Brother e poderem transar com todos os participantes, sendo assistidas por todo o Brasil e quiçá, o mundo. Não por dinheiro, mas por tesão mesmo.

O Baile – Um reality Show super-hiper-mega original, exibido por um famoso canal, onde várias garotas disputam um mesmo homem, passando a noite toda com ele, que por acaso é um príncipe de verdade, de uma província distante, a vencedora ganha o cacete, ops! O palacete, onde vai morar com o maridão nobre.

Conforme o Aurélio - Baile - 1. Reunião dançante de caráter festivo e não raro formal.  2. Dança alegre e festiva; bailado; dança.

Cindy Rolla – O mesmo que Sindyvaldo, desde menino era delicado e gostava apenas das brincadeiras de menina, mas seu pai tão transtornado, não teve tempo de se atentar para o filho, que desde cedo passou a agir como garota e sofreu todas as humilhações possíveis da Megera e de suas filhas, As Irmãs Malvadas, que o apelidaram de Cindy Rolla, devido ao fato de Cindy ou Sindy ser bem dotado. Com o tempo, Cindy mostrou-se transexual. (De dia na limpeza, Cindy só usava Bombril, mas para dormir, somente nua, com Channel n.4).

Transexuais Masculinos - não são homens que querem ser mulheres. Do ponto de vista psicológico, eles são mulheres. Têm vergonha de seus órgãos sexuais, não permitem ser tocados nessa região, nem se masturbam. Os transexuais masculinos não buscam o prazer sexual nos órgãos sexuais, por isso, geralmente desejam realizar a operação para troca de sexo. São divididos em dois grupos: os primários, aqueles que desde meninos sentem que pertencem ao gênero feminino, e os secundários, que se sentem meninas, mas que procuram imitar os meninos por pressões da família. O caso mais famoso de transexual masculino no Brasil é a modelo Roberta Close. (conforme o site www.osonzesexos.com.br)

A Gata Borralheira – Cindy nunca saía da barra da saia da Megera, porque nunca havia visto a cor de seu dinheiro, e tudo o que ganhava, gastava em hormônios, apliques, roupas, maquiagem e tudo o que precisava para manter sua auto-estima, mas sempre que podia dava uma escapadinha e fazia seu show na boate underground chamada “Borralhos” na Boca do Lixo, onde também ficou conhecida como a Gata Borralheira

A Foda Madrinha – Na grande noite, a casa ficou vazia, pois suas Irmãs Malvadas foram para 'O Baile" e a Megera iria assistir ao vivo da platéia montada em frente ao estúdio.

Enquanto isso... Cindy ouve parar um caminhão de onde desce uma caminhoneira (de seu caminhão Scania).

Enquanto isso na boléia... Segundo o Aurélio – Boléia – 4 . A cabina do motorista, no caminhão.

Diálogo de Cindy e a Caminhoneira
Caminhoneira - E aí Cindy! Tu tá um mulherão, hein? Se eu num te conhecesse, te comia, rá, rá, rá...
Cindy - Que foda, hein madrinha! Não te vejo há décadas!
Caminhoneira - Eu era amigona do teu pai nas passeatas. Em nome dessa amizade, vim para te ajudar, você me ligou do celular que as Malvadas te trancaram no armário, no último dia da inscrição para o reality show, então eu fui lá e fiz, tu tá inscrita! e selecionada. Mas eu tenho que pegar a estrada lá pela meia-noite, passo lá e te pego. Não se esqueça, meia-noite! Senão as abóboras estragam e eu perco a carga (detalhe importante, a madrinha transportava abóboras)
Cindy – Porra, meia-noite! Você é foda, hein madrinha!

Cenário – A réplica de um verdadeiro palácio real. O apresentador-mala para toda hora para falar com o público que torce do lado de fora. A orquestra toca. Todas as candidatas dançam com bofes-modelos contratados.

Inicio do jogo – Foi dado o ponta pé inicial. Patricinhas atacam pela direita. Patricinhas atacam pela esquerda. Príncipe na grande área. As Malvadas avançam para Príncipe. Torcida da Megera vai ao delírio. Cindy Rolla entra em campo. As Irmãs Malvadas não reconhecem Cindy produzida, só em trajes de faxina. Cindy arrasa em campo. Malvadas disputam à tapa a atenção do tal Príncipe. O Apresentador-Mala para toda hora para falar com o público que torce. Malvada 1 dribla com seu Karl Lagerfeld. Malvada 2 chuta as adversárias com seu Balenciaga. Megera da torcida vibra com seu Galliano. Príncipe  de Giorgio Armani, investe em Cindy Rolla. Cindy vestindo um modelo minúsculo e transparente e decotado, adquirido por uma pechincha no brechó, Minha Avó Usa, se excita. Cindy pela primeira vez sente algo diferente dentro de si. Príncipe sente um volume que não é o seu. Malvadas trapaceiam. Malvadas cometem falta. Juiz expulsa as Irmãs Malvadas. O relógio bate meia-noite. Cindy sai de campo. Cindy foge com Foda Madrinha caminhoneira em caminhão Scania, cheio de abóboras. Príncipe encontra plataforma de cristal tamanho 44 adquirida por uma pechincha na Rua 25 de março.

Noticiário Sem Conteúdo Informa - Programa é cancelado já que Príncipe quer a candidata que abandonou o jogo. Príncipe paga grande multa a emissora. Príncipe pega endereço da candidata e vai até a casa dela.

Corra Cindy, Corra! - Nenhum pezinho das Irmãs Malvadas, preenche a plataforma 44. Foda Madrinha metra em Jiu-jitsu, tira o pé da abóbora e impede injustiças com a afilhada, da porrada na Megera e nas Irmãs Malvadas.

Borralho – Foda Madrinha leva Príncipe na Boate Borralhos e ele a tira do palco e a leva em sua limousine branca, enquanto ela dubla -  Como uma Deusa! Você me mantém e as coisas que você me diz, me levam além, bem perto das lendas, bem longe do fim....

Enquanto isso no palácio... - Príncipe abdica do trono por Cindy, comemoram com doce de abóbora, presente da Foda Madrinha. Príncipe descobre que além de abóbora, também adora um bom nabo... no jantar.

Foda Madrinha sem foda – dirigindo pela estrada canta - "Todo dia quando eu pego a estrada. Quase sempre é madrugada e o meu amor aumenta mais. Porque eu penso nela no caminho..."(Roberto Carlos)

Noticiário Sem Conteúdo Informa - Megera é despejada por não pagar o IPTU dos últimos dez anos. Megera cheia de hematomas e com uma trouxinha na mão, sem rumo pega a estrada e aceita carona de caminhoneira que é um doce, e que depois de lhe dar muitas porradas lhe mostrou o que é ser mulher numa aconchegante boléia. As Irmãs Malvadas se mudaram para o Rio de janeiro, em busca do Paraíso Tropical, de dia descansam, de noite trabalham no calçadão como mulheres de “catiguria”. Príncipe abre fábrica de doces de abóbora. Cindy muda de sexo.

Dialogo de Caminhoneira para Cindy num interurbano a cobrar.

Caminhoneira – Cindy, você é foda, hein! Tinha que ser minha afilhada!

Acabamos com um manjadíssimo... e  foram felizes para sempre.