segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

"A Volta da Mulher Rasgada"








        
            Com a alma dilacerada, o coração partido, rasgou a sala e partiu deixando a porta escancarada para o sempre. 

       Com o lábio partido, o vestido rasgado e o olhar escancarado cortou caminho pela avenida infinita de um nada dilacerado. 

        Com a memória escancarada, lembranças rasgadas, cenas partidas, cortou de leve um transeunte, dilacerando-o assim em desejo e deu de cara com o beco limitado para o hoje. 

Escancarou seu vestido, rasgou o transeunte, partiu para ele, dilaceraram o beco cortando assim para a próxima página cheia de possibilidades futuras abertas para um desfecho de reticências.



        Assim a noite obscura partia, o sol rasgava um novo dia escancarado de sol, rasgando uma nova cidade dilacerada de dias, idades e possibilidades cortadas para...


       Neste exato segundo a página foi rasgada pela mulher magoada, atirando assim ao longe o livro e deixando a Mulher Rasgada sem saber para onde transitaria com o transeunte e por quanto tempo estaria com ele e quanto viveria, mas dai refletiu bem - que estas respostas não existem nem nos livros ou romances bons que sempre acabam antes.
  
rasgada... partida... magoada... desfeita... desvalida... desfeita em tiras na poça da chuva espelhava nuvens, se mesclava a água e se encorpava em novo papel, nova mulher, outro romance, outra estante, instante outro que partia...





terça-feira, 20 de novembro de 2012

" A Mulher que pisava em flores"





Florinda hoje caminha pelo jardim, literalmente sobre o jardim. Já é uma senhora idosa, mas pisa nas flores, não por não enxergar bem ou dificuldade na locomoção devido a idade...

Quando pequena, Florinda, chamada por todos de flor, florzinha pros íntimos, adorava ajudar no jardim, regando, cavando e acariciando as begônias, bromélias, hortênsias...

Só que sua irmã Florípedes desabrochou bela e continuou assim, ela não, se abriu sem graça, sem beleza notável. Desta maneira era Florípedes que recebia convites para sair, pedidos de namoro e ramalhetes de flores como – rosas vermelhas, amarelas, champanhe...

Florinda nunca recebeu flores, cresceu assim sem desabrochar pra vida, não namorou, já que nunca recebeu um pedido, um flerte, então se fechou flor, não se entregando para ninguém, guardou-se fechada sem beija-flor.

Enquanto dormia sonhava com o jovem cavalheiro que lhe bateria a porta com um belo ramalhete de rosas vermelhas repletas de paixão a sangrar os olhos, ou um singelo maço de delicadas flores do campo, algo bem humilde em sonho mais comedido e pedido divino mais modesto.

As  primaveras se foram e Florinda pereceu sem flores e sem entregar sua flor a ninguém, por isso hoje caminha pisoteando em passos tremidos com o auxilio da bengala de madeira sobre begônias, bromélias, hortênsias, azaleias...

Certa tarde inesperada tempestade de vento se manifestou pegando todos desprevenidos nas ruas, Florinda apertou o passo dentro do possivel. Chegando bem a tempo da chuva que estava por vir se prostrava em frente a porta de seu prédio, sorriu feliz para seu reflexo na porta de vidro da portaria, com a expressão de missão, massacre e dever cumpridos

Antes que o porteiro pudesse abrir... uma floreira de madeira desvairada derrubada pelo vento composta por três vasos bem encaixados de cores distintas de flores acertou a cabeça de Dona Florinda fatalmente. 

Depois de séria investigação, ninguém conseguiu descobrir o proprietário da floreira certeira, há quem diga que não havia dono, e que tal armamento havia sido enviado celestialmente.

Hoje... misteriosamente, Dona Florinda que não tinha mais parentes e tampouco amigos sempre tem flores frescas em sua sepultura.

Begônias, hortênsias, bromélias, rosas, margaridas...

 



domingo, 7 de outubro de 2012

"3"






(texto escrito há uns 10 anos, repaginado, nunca publicado... rimado)

... Éramos 3...
3 bocas num beijo tri-salivar
3 corpos escrevendo uma só literatura
De pelos, poros, e ar
Decodificada por 1 só código de barras
Sem barreiras
Nem amarras.
Eu – tu – ele – nós – você - a gente
O sexo dos anjos
Como epifania na Terra
Inconseqüente
Eu, meu melhor amigo e... seu amado
Num prazer a 3 elevado
3 x 3
3 x = a + perto do gélido paraíso
3 faces 
1 só ser...ver... ter
De 1 uníssono riso
Das portas do terno inferno
Talvez 3 x bem+perto
3 almas mentes ou quentes? (risos)
Caminhando perdidas
Em equações aritméticas
Em linhas de um só corpo deserto
Com total imprevisto e incalculável
Resultado ofegante e desesperador
Fria calculadora sem sentimentos
O deleite dos catetos sem hipotenusas.
Hipotéticas musas(os) tolas(os) nuas(os)
3 = a muito + que 2...
3...


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

“O Eterno Duelo entre a Loira e a Morena ou entre o Bem e o Mal”





Marilyn Monroe e Jane Russel (Lorelei e Dorothy)


É das mais antigas guerras e nem sempre tão frias que quero falar. A batalha de gritos ou silêncios, farpas e às vezes sangue, a luta entre a mulher dos cabelos platinados, iluminados como raios de sol e a morena, com seus cabelos como a noite ou as asas da graúna. 



Karen Cartwright (Katharine McPhee) X Ivy Lynn (Megan Hilty)

 Podemos citar uma parceria sem guerra onde Marilyn Monroe divide a telona com Jane Russel. “Os Homens Preferem as Loiras” (1.953)” - Duas dançarinas, Lorelei e Dorothy, embarcam num cruzeiro rumo a Paris, a pedido do milionário noivo de Lorelei. O pai do noivo contrata um detetive (Elliott Reid) para segui-las e conseguir provas de infidelidade de sua futura nora, criando uma série de confusões em alto-mar num navio repleto de homens. Gerando assim a famosa cena "Diamonds Are A Girls Best Friend", copiada por Madonna e Kylie Minogue.



Ivy Lynn (Megan Hilty) X Karen Cartwright (Katharine McPhee)

Inicialmente, a Fox pretendia contratar Betty Grable para o papel de Lorelei. Entretanto, após o sucesso de “Torrente de Paixão”, de 1953, o estúdio decidiu chamar a novata Marilyn, por acreditar que ela daria ao filme um maior sex appeal. Além de seu salário ser bem menor que o de Grable. Marilyn ganhou cerca de 18 mil dólares. O salário de Jane Russell, a outra estrela da produção, girava em torno de cem mil dólares.




 Emily Thorne/Amanda Clarke (Emily VanCamp) X Victoria Grayson (Madeleine Stowe)

João Emanuel Carneiro, novelista - parece apreciar muito esta rivalidade – em “Da Cor do Pecado” (2.004) – Preta (Taís Araújo) lutava contra a vilã muito bem interpretada por Bárbara (Giovanna Antonelli) em versão blonder. Em “A Favorita” (2.008) uma guerra não muito clara de amor e ódio pela morena Donatella (Claudia Raia) e a malvada, talvez a vilã mais malvada da teledramaturgia, Flora Ferreira da Silva (Patrícia Pillar). A própria vinheta de abertura ao som do eletrotango do grupo Bajofondo, mostrava a loira e a morena numa animação dramática dividindo a tela ao meio entre a loira nas sombras e a morena na luz. Antecipando a revelação de quem era a vilã apresentada posteriormente. Agora em “Avenida Brasil”, a loirinha Carminha (Adriana Esteves) guerreia diariamente com a moreninha Rita/Nina (Débora Falabella).


Donatella (Claudia Raia) X Flora Ferreira da Silva (Patrícia Pillar).

No seriado “Revenge”, já citei aqui anteriormente, que tem várias semelhanças com “Avenida Brasil”, a batalha também acontece entre a loira Emily Thorne/Amanda Clarke (Emily VanCamp), e a morena Victoria Grayson (Madeleine Stowe). Falando em seriados, nenhuma disputa é mais acirrada que no seriado “Smash”, onde nos bastidores de um musical sobre Marilyn Monroe, a loira Ivy Lynn (Megan Hilty) e a morena Karen Cartwright (Katharine McPhee) disputam páreo a páreo que será a protagonista. A morena é boazinha demais e a loira sempre a passa pra trás. Enquanto não chega a segunda temporada, pode-se rever o reprise da primeira no Universal Channel.

Louco por loiras era Alfred Hitchcock que se apaixonou por Grace Kelly, Tippi Hedren e Ingrid Bergman. Para outras, ofereceu apenas desprezo como Doris Day, que magoada, quis se demitir e Anne Baxter que desconfiava não ser “bonita o bastante”. Joan Fontaine e Hedren sofriam insultos no set e Janet Leigh passou maus bocados para filmar a famosa cena do chuveiro em Psicose. Sem esquecer da bela Kim Novak, que também não foi uma relação pacífica no set de “Um Corpo Que Cai”.

Preta (Taís Araújo) X Bárbara (Giovanna Antonelli)


Dizem que quase todas as mulheres já foram ou querem ser loiras. Outros dizem que as mulheres não envelhecem e sim ficam loiras. E você prefere as loiras ou as morenas? Como se bastasse?! E a grande atração que há pelas ruivas, as mulatas, as negras e as orientais? Preferem as loiras, mas se casam com as morenas? Este assunto sempre dará muito pano pra manga ou muito cabelo pra tintura. O bem e o mal, a loira e a morena, a luz e as trevas. 


Tufão (Murilo Benício), Carminha (Adriana Esteves) X Rita/Nina (Débora Falabella).