sexta-feira, 11 de julho de 2014

Confissões ruborizantes do claustro vermelho - "Aracy"




Aracy, ao contrário de Cordélia que sempre teve tanta liberdade que um dia se opôs a ela, a mais nova hóspede da mansão vermelha tem uma história bem diferente. Aracy sempre viveu reprimida pela educação do pai déspota numa pequena cidade do interior, distante numa fazenda. O quanto antes quis se casar para se libertar, e assim conseguiu...

O que Aracy não sabia era que o homem que havia escolhido rapidamente, era possessivo, obstinado e que imaginava coisas com frequência, como se ela fosse fútil e vazia e olhasse para todos os homens vulgarmente. Talvez isso se devia a traição de sua sogra, a qual nunca conheceu, foi banida pelo pai de seu amado.

O destino um dia lhe favoreceu, quando achava que nunca mais se libertaria dos déspotas e ditadores de sua vida, seus carcereiros de merda, a sorte do acaso surgiu, seu marido também fazendeiro foi traído. Ele que amava o gado acima de todas as coisas, por um touro foi traído, sem chances de defesa, a sombra dos cornos na luz do sol sobre o pasto pareciam mais a presença de Lúcifer que havia vindo para salvá-la.

Aracy sempre havia orado para Deus, e para o Diabo quando cansou de pedir ao céu, que seu pai fosse levado, depois que seu marido fosse levado. Quando deveria comemorar por dentro, caminhou inabalável diante do touro desafiando-o deitou-se no pasto e como no quadro de “Pietà” confortou o falecido em seu colo, o beijou, e se marcou com seu sangue, nele ainda, os arames farpados da cerca da qual seu homem tão odiado tentara escapar. Tentara...

Agora Aracy agonizava por ser livre, se acostumara ao claustro, a liberdade era um dissabor, desejava o marido morto, suas mãos, suas amarras invisíveis. Então sendo assim se entregou ao tal endereço rubro e numa sala de mesma cor, se envolvia nos arames farpados que lhe prendessem, que lhe punissem, que lhe causassem dor, a dor da ausência do amado censor, seu torturador anônimo invadia o quarto.

Aracy ardia em desejo, a máscara dele permitia que ela imaginasse que ele ainda estava vivo, seu marido, seu pai, déspotas, despida de roupas, vestida de desejos, agonizava ansiosa. O vermelho do claustro a  fazia recordar do sangue do amado, suas chagas que limpara, agora queria as suas, as suas chagas da purificação.

Aracy, arames, espinhos, aleluia, agora se sentia viva, conseguiu sorrir aos primeiros toques frios do invasor e ruborizou-se imaginando como seria se “eles” estivessem ali assistindo tudo... 
Hosana nas alturas!