terça-feira, 31 de agosto de 2010

Trilogia Noir - parte 3 - "Fantasma"





Vou exorcizar o passado,
Os fantasmas vão me ajudar na limpeza.
Jogar seus cartões e suas cartas,
Queimar suas fotos,
Quebrar correntes que me ligam.
Esquecer de vez.
Vasculhar a casa
Atrás de qualquer lembrança
Que não deva permanecer.
Não vou querer ouvir
As músicas que ma faz
Voltar no tempo.
Colocar o passado no lixo.
Poder seguir em frente,
Escalar cada vez mais alto
E ver lá de cima o que ficou.
Pode isso ser possível?
Se existe alguém
Trancado a sete chaves
Dentro de mim.
Não há como expulsar,
Será que esta preso no coração?
Ou na mente?
Ou em ambos?
Quero arrancar o coração,
Quero uma lavagem cerebral.
Te colocar de vez na minha galeria
De fantasmas sombrios e decadentes.
Ultrapassados e esquecidos.
Como se esta tão presente?
Espero que me assombre todas as noites.






segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Trilogia Noir - parte 2 - "Enquanto isso..."





Um minuto,
Um cigarro,
Um trago,
Um copo,
Um líquido,
Um gelo.
Um pensamento,
Uma distância,
Uma paixão,
Um impedimento.
Uma saudade,
Uma vontade,
Um desejo.
Uma solidão,
Uma cortina,
Uma janela,
Uma avenida.
Enquanto isso...
A Terra e os ponteiros giram...
Mil carros passam,
Mil buzinas e pessoas gritam,
Mil carros e corpos se chocam.
Mil pessoas nascem,
Mil pessoas lutam,
Mil pessoas odeiam e amam.
Mil pessoas se encontram,
Mil pessoas sobrevivem,
Mil pessoas desistem de ser pessoas,
Mil pessoas vivem.
Mil pessoas choram e riem,
Mil pessoas fabricam mais mil pessoas,
Mil pessoas matam mil pessoas,
Mil pessoas morrem.
Enquanto isso...
Mil anjos e demônios circulam entre nós.
Enquanto isso...
Mil quilômetros mais ou menos nos separam.
Um talvez?
Um quem sabe?
Um até breve?
Um beijo,
Um adeus,
Um, sei lá...
Um enigma,
Uma viagem,
Uma estrada,
Uma volta,
Um mistério.
Um reencontro,
Uma esfinge,
Um rosto.
Enquanto isso...
Te decifro,
Enquanto isso...
Te devoro.
Um ponto final.
Enquanto isso...
Uma interrogação aparece...


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Trilogia Noir - parte 1- "Cinzas & Sombras"


(em tempos de reciclar, publico aqui poema 
criado e escrito em caderno, vinte anos atrás)
-->


Tarde nublada 
Chuva sonífera 
Folhas secas correm 
Janelas e cortinas 
Fechadas como escudos 
Assovio de vento 
Silêncio barulhento 
Caladas paredes 
Paredes cinza 
Tudo agora está cinza 
A vida está cinza 
De vários tons 
Que chegam até o preto 
Como num filme noir 
Como a noite que há dentro de mim 
Sem lua 
Sem estrelas 
Só restam cinzas 
Cinzas e sombras 
Cinzas do desgosto tragado 
Sombras do medo da incerteza 
As cinzas são... 
As sombras serão... 
Elas anunciam dentro da névoa 
Um amanhã desconhecido 
Que poderá trazer cores 
Que ferindo aos poucos 
Poderão me restaurar
Das cinzas e das sombras

 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Batman e Platão no Darkroom"


(texto publicado pela primeira vez em 2006 na coluna 
Liquidificultura em site parceiro do Cosmo Online)

O Mito da Caverna – certa história nos conta que algumas certas pessoas, num certo local, viviam aprisionadas sem nunca conhecerem certamente o que existia lá fora e sem nunca terem visto certa luz do dia. Imobilizados por correntes nas paredes, a única forma que conheciam eram as sombras dos prisioneiros que passavam atrás do muro onde se encontravam.

A Grande Sacada de Platão – foi criar esse mito para ilustrar como nos habituamos a mesmice e ao mundinho pequeno e limitado em que vivemos. Uma pessoa que se libertasse dali se chocaria com o mundo que nunca viu. Provavelmente haveria certos prisioneiros que prefeririam não se arriscarem a conhecer o temível mundo lá fora. O medo do desconhecido. Mas metaforicamente, o que ele quis dizer, talvez fosse que não queremos reconhecer nossos defeitos, a repetição de nossos mesmos erros que nos distancia mais e mais de nossa tão almejada perspectiva, ou de nossa fuga preferida. Sair do útero materno. Chocar-se com a luz bruta e levar o primeiro tapa. Ter que trocar o certo pelo duvidoso. Será que queremos sair de nossas cavernas? Será que estamos prontos?

Enquanto isso na Batcaverna... – o homem-morcego surgiu como super herói em sua primeira aparição - alguns acreditam ter sido - em desenhos de Frank Foster em 1932. Bruce Wayne, já interpretado por vários galãs no cinema - como se mostrou em “Batman Begins” - presenciou o assassinato dos pais quando criança. Isso fez com que o órfão bilionário se revoltasse e após criar um modelito pretinho básico – nada discreto – e após colocar uma máscara, passa a lutar contra as forças do mal. O super herói mais realista dos quadrinhos, do cinema e da TV, já que não tinha super poderes. Quando Gothan City está em perigo, ele sempre se dirige para sua batcaverna e passa de Bruce a Bat. Sem mutações, apenas veste sua fantasia.

Que Fim Levou o Robin? Para quebrar sua lúgubre solidão em sua batmansão, adota o ex-trapezista que passa a se denominar Robin. Para muitos, o maior caso de amor gay enrustido dos quadrinhos e etc. Como dizia o DJ Mauro Borges em “Que Fim Levou o Robin?” – sucesso dos anos 90 com a banda de techno-pop de mesmo nome - Robin foi visto no Brasil como go-go boy, dançando numa famosa boate moderna. Teria sido um amor platônico? Será que todas as noites, Bruce Wayne em seu batquarto, batia uma batpunheta?

O Antiguinho Moderno - Arístocles - 428/27 a.C. - um cara muito conhecido na Grécia Antiga, nascido em Atenas, ganhou o apelido carinhoso de Platão, devido seu porte atlético ou sua dimensão intelectual. Filósofo por natureza, tornou-se um célebre pensador e discípulo de Sócrates – não confundir com o jogador de futebol. Platão buscava a verdade através de perguntas, perguntas, perguntas e mais perguntas.

Amor Platônico - o famoso termo, se deve a um caso de amor do mesmo Platão, que nunca se concretizou por ambas as partes, servindo assim de denominação para nossas fortuitas histórias de amor à distância no decorrer da História. Ele ainda dividia o nosso mundo em duas fatias – “O Mundo das Idéias”, perfeito e eterno e “O Mundo Real”, finito e imperfeito. Isto é... um mundinho pirata, cópia mal feita do tão idealizado “Mundo dos Sonhos”. Será que na Grécia Antiga, tão liberal, mais do que o preconceituoso mundo atual e hipócrita, teria o tão plácido Platão, vivido um amor platônico por alguém do mesmo sexo?

Tudo o que você sempre quis saber sobre morcegos, mas teve vergonha de perguntar - os únicos mamíferos que tem a capacidade de voar devido à transformação de seus braços em asas. Existem atualmente quase 1.000 espécies de morcegos. Geralmente os morcegos saem de seus abrigos ao entardecer ou no início da noite e se comunicam e voam orientados por sons de alta freqüência. A alimentação dos morcegos varia conforme a espécie. Existem os que se alimentam de frutos, outros de néctar das flores, insetos, sangue. Os morcegos em geral ficam abrigados durante o dia em locais como - cavernas, ocos de árvore, etc.

Tudo o que você nunca quis perguntar sobre Batbibas, mas nunca perguntou porque simplesmente não sabia que existiam - os únicos seres humanos mamíferos que tem a capacidade de voar, tomando ou não, Red Bull. A prova disso é o inesquecível sucesso de “As Frenéticas” cantando - Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia... Existem atualmente quase 1.000 espécies de batbibas. Geralmente elas saem de seus empregos ao entardecer ou no inicio da noite e voam orientadas por sons de alta freqüência como techno, house, psy, trance, qualquer música da Madonna, entre outras divas louras.

Bat - Food / Bat - Fuck - A alimentação varia conforme a espécie. Existem as batbibas mais velhas que se alimentam de frutinhas frescas bem recentes no mercado, outras se alimentam de néctar de flores, são as que quando abrem a boca, é um verdadeiro desabrochar de rosas, margaridas, violetas, etc. Há batbibas que se alimentam de insetos, incurável preferência por seres escrotos, às vezes são apaixonantes e mesmo eliminando-os de sua vida, podem causar seqüelas. Por último a espécie dos que se alimentam de sangue, as famosas sanguessugas - não as da CPI - e sim aquelas que grudam, não pagam a conta da mesa do bar, chegam de repente com todos os pertences em sua casa, prontas para dividir seu habitat natural com você, geralmente causam sintomas desagradáveis como estourar o limite de seu cartão de crédito e “otras cositas más”. As batbibas em geral ficam abrigadas durante a noite em locais como: boates, bares, darkrooms, apartamentos, cavernas, etc, etc, etc.Geralmente partem quando já amanheceu, provavelmente migram para seus ninhos ou para o parceiro de acasalamento da noite ou da época.

Darkroom - do inglês - quarto escuro - um quarto ou sala com iluminação muito baixa ou totalmente escura que normalmente é situado em um estabelecimento gay. A finalidade do dark room é atividade erótica entre os presentes que é quase anônima por causa da escuridão, e por isso pode ajudar reduzir as inibições das pessoas. (Encontrei na internet está definição pedagogicamente fantástica, ilustrativa e sutilmente lúdica. Nunca imaginei!) Darkrooms começaram a aparecer nos Estados unidos nos anos 70, em boates gays. Hoje em dia também há darkrooms em estabelecimentos héteros. (Pasmem! Desconhecia tal fato!) A palavra darkroom refere-se em inglês á câmara escura para revelação de fotografias. Para referir-se ao quarto escuro para sexo, usa-se a palavra backroom - quarto traseiro - (Desconheço tal fato!)

Eu, Capitão Caverna?! - Desde a Idade da Pedra, lascada ou polida , nos escondemos atrás de máscaras, era assim no Teatro Grego do “Mundo Real”, é assim com os Batmans de nossos “Mundos Imaginários”. É assim dentro de nossos apartamentos / rooms, de nossas cavernas calorosas ou sombrias, dentro de nossa solidão/dark. Era assim nos bailes carnavalescos venezianos, mantermos o anonimato, o latente, o misterioso, o Amor de Platão, ou o batsexo anônimo, na batcaverna, ou mesmo sob a luz do dia, colocar a mascara sorridente do bem estar e felicidade. Para onde vamos? Corremos de batmóvel para a batcaverna, fugindo do bem e do mal que podemos causar a nós mesmos, sem super herói para nos salvar e viver no oco do que não deveria ser. Para prevenir a humanidade, a Grécia Antiga criou seus Mitos, mas são inevitáveis, estão dentro de nós e fazem parte de nosso dia-a-dia, estão dentro de nós / cavernas.