terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

"Luz Amarelada"






No quarto frio de literatura suja, de beira estrada, esperava "ele" por alguém. Enquanto a noite não se calava, inquieta... arredia... incessante... notívaga e galopante em seus cascos a ecoarem nos labirintos de sua mente.

A TV sórdida, num canal decadente, exibia um filme vagabundo sobre um romance marginal, era a hora da boca que não se calava, suspirando afoita em desejos vãos.

"Ele" ficou ali por horas imóvel e impassível esperando pelo cavalo do príncipe, sim, cavalos existem, príncipes não mais.

Depois de tempo indeterminado, o cavalo chegou e o pegou ali seminu, o colocou sobre seu lombo e saiu trotando.

No trajeto íngreme e irregular, transitou entre seus sonhos equinos e flashes tão repentinos do filme ordinário, o que o fazia acreditar que estava a caminho de casa, era o trotar do seu amante em meio a poeira da estrada sem fim.

Logo "ele" seria de seu cavalo, somente, sem pensar em sonhos ou príncipes e então novamente ficaria só e assistiria a TV chuviscada exibindo imagens de pessoas normais em situações comuns, coisa que não existe.

O que restava de esperança no canto sujo e empoeirado da memória, não era nenhuma claridade luminosa, mas sim um detalhe daquele último quarto de motel, a reconfortante luz amarelada...

"Ele" sabia que era apenas pó, seu amante fugia, sumia, mas na abstinência voltava para aspirá-lo com voracidade de fera faminta e lhe era doce e o levaria para onde fosse, e ele assim esperaria sempre imóvel como pó, pensando em luzes amareladas, daquelas que matam borboletas bobas assim como "ele" mesmo.


Um filme longo de madrugada infinda...