domingo, 26 de setembro de 2010

“Trilha Sonora”

Ouço sons
Variados ruídos
Sussurros e gemidos
Carros que avançam
Respirações ofegantes que se cansam
Animais humanos e humanos selvagens que amansam
Ecoam cantos
Escorrem prantos
Dispersam burburinhos
Buzinas nas esquinas
Malabares pirofágicos
Nos faróis trágicos
Bater das asas das pombas dos mágicos
Diálogos verborrágicos
Paixões latentes
Clamores dos doentes
Deslizar dos pentes
Desesperos das gentes
O balançar dos cílios de quem mente
O duelo dos anjos e dos demônios
A guerra dos sinônimos e dos antônimos
Os passos da despedida
As pegadas da volta
Dos percalços tortos
A saudade dos mortos
As batidas do coração no primeiro encontro
O sopro do outro
Navios no ar
Aviões no mar
Trens em trilhos
Da trilha senhora
Dos trilhos sem hora
A hora sem ida
A trilha sonora da vida


terça-feira, 14 de setembro de 2010

“Talvez Tarde”

O que falar?
Por que falar?
Para quem dizer?
Olá...
Em quem chegar?
Nadar até...
Palavras nas bocas
Para perpetuar ideias
Poesia contraditória de concreto armado
Janelas acesas agora
Que já se apagaram há décadas
Tal como estrelas adormecidas em coma induzido
Assim falar para o cosmo
Assim calar para um ósculo
Leve orgasmo de um roçar de lóbulos
Enquanto a poesia chega
Há um silêncio atrás da porta
Tem Luzía atrás da horta
Mesmo porque, Inês já é morta
Quem se importa?
Então fale agora
Não importa o quê
Seja para quem for
Não espere a alvorada
Antes que as palavras se afoguem sem te ouvir
Que as ideias se dissipem sem chegar
Que a poesia se esfarele como bolo de fubá 
de duas torres
Que as janelas não se acendam
Por que as estrelas agonizam em dor
E os orgasmos se intimidam em bolor
A horta apodrece exalando mau odor
Enquanto Luzia enterra Inês
E a porta se fecha
O silêncio adormece...


sábado, 4 de setembro de 2010

“Cabide”


Despistastes
Fugistes
Disfarçastes
Mas chegastes à conclusão
Que sou teu melhor ninho
O mais seguro afago e repouso
Então voltas como quem não quer nada
E me vestes
Viestes me vestir
Voltastes para descobrir e cobrir minha nudez
De Vestes
E eu fico assim parado te aguardando com cara de pau
De pau duro
Preso
Capitão gancho
Prisioneiro clandestino
Sem saber o que fazer
Muito menos pra onde ir
Pendurado no pau de arara
Sem tortura física
(Somente tortura moral e psicológica)
Sem sair do armário para os dias
Então te despes diante de mim
Me vestes e te vejo assim em pele
Já que viestes
Feche as portas
Que agora sim
Aqui dentro tomo tua forma
Teus ombros bebem forma de mim
Meus companheiros
Pobres soldados desarmados ficam sós
Enquanto alguém não desfaz a bagagem