quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Strangers in the night..."





Strangers in the night...

É o que diz a música ao longe
Somos todos estranhos nesta noite
Muito estranhos na noite de hoje
Muito estranhos sempre
Interfone toca
Alguém bate à porta
Tocam a campainha
Olho mágico
Sem tanta magia assim
Mais um estranho entra
Mais um estranho sai
Do apartamento vazio
Da casa nua
Da mente cheia de sonhos
Do corpo copo de desenhos
Do corpo copo de desejos
Dos sonhos inquietos e irrequietos de ilusões que nunca se aquietam
Nada se arquiteta
Mas um estranho se torna a cada noite menos estranho
Um estranho mais íntimo na noite
E tudo tão perfeito como num filme clássico
Cena sob trilha de Frank Sinatra
E o estranho que se tornaria o menos estranho
Torna-se o maior estranho de todos
Todos querem estranhos
Estranhos querem todos
Então sou mais um estranho na noite estranha
Uma música
Um silêncio na noite
Em versão instrumental
Em versão bolero
Em regravação moderninha
Todas parecem lastimar
Lamentar
Os estranhos na (da) noite
A mente rodopia
Incansável
Casais rodopiam insanos
Bêbados de(em) delírio
Mais uma noite estranha
Num mundo estranho
De homens estranhos...
As vezes a música acaba antes da dança
Em outras a dança antes da música
E o salão fica vazio
Um só perdido
No coração de piso frio
Strangers in the night!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

"Página Vermelha"






(Inédito, escrito há vinte e cinco anos (por volta de...)




A lua sobe,

A noite cai,

Estrelas e postes acendem

Na negra noite de néon.

Noite reflete e espelha,

Na manhã seguinte

Na página vermelha.

Bares, todos os lugares

Abrem suas portas.

Noite abre suas pernas.

Todos se abrem.

Noite que cospe suas tribos.

Mocinhos, bandidos, punks, darks, metaleiros, góticos, grunges, skatistas, pixadores, surfistas, androides e andróginos.

Desfilam na noite

E estampam a página vermelha.

Todos expõem suas armas... almas...

Revolveres, cassetetes, beijos, facas, navalhas, bocas, giletes, olhares, sexos e canivetes.

Lutam na noite

E se rendem

Na pagina vermelha.

Todos se perdem no proibido,

Liberam libido

Sem álibi, sem gemido

E desafiam as leis da selva noite.

Noite apocalíptica noite,

Avenida visceral,

Sedução recíproca,

Noite marginal.

Todos gatos são pardos,

Todos cordeiros são lobos,

Ninguém é de ninguém,

Ninguém é ninguém.

Nada se parece,

Ninguém se assemelha,

Só tem identidade,

Na página vermelha.

Mãos ao alto!

Isso é um assalto, um estupro, um sequestro, um assassinato, um encontro.

Paixões tornam-se crimes

E crimes são a paixão.

Disputam espaço

E fazem a noticia

Na página vermelha.

Exala na noite

Muita adrenalina.

Crack, cocaína, maconha, heroína, prozac, LSD, álcool, cigarros, tragos, balas e doces.

E fazem um brinde

Na pagina vermelha.

Todos se encontram na noite...

Heterossexuais, bissexuais, homossexuais, transexuais, travestis e assexuados.

Entrelaçam-se no prazer

E vírus da noite.

E dão a luz

A pagina vermelha.

Lua que assiste a tudo

E como narciso,

Admira-se na poça de sangue do asfalto

E da lugar ao sol

Que traz consigo a próxima edição

Da pagina vermelha.