quinta-feira, 1 de maio de 2014

Confissões ruborizantes do claustro vermelho - "Cordélia"






Nada se compara as tais memórias daquele claustro, um claustro voluntário, de entrega às submissões. 

Quatro paredes vermelhas da casa que diziam ser da mesma cor, todas elas chegavam de olhos vendados e sonhos vendidos. 

Cada quarto um pecado, um fetiche, um desejo. Pagar para se ter o que não se tem naturalmente com o decorrer do dia a dia. 

Sendo assim, chegou ali, "ela" - dias atrás - Cordélia, nome de flor, talvez um pseudônimo para adentrar a tal casa vermelha e manter o anonimato da integridade moral. 

O suposto desejo de Cordélia era ser amarrada, atada, presa, além de prisioneira assim como todas eram no claustro. Havia especificamente em seu sonho de consumo as cordas também vermelhas, ou talvez faixas que a prendiam, suspendiam-na nas alturas, perto do teto também vermelho. 

Será que ninguém entendia que o que ela queria, era não ser livre, sempre havia sido exageradamente livre, liberta, pelos pais, por todos a sua volta, na tenra infância, na rebelde adolescência, irradiava liberdade. 

Agora queria regras, ditadura, ordens, desejo de obedecer, cumprir, querer não ser mais de todos, apenas de um, exército de um homem só, possível apaixonante torturador, a dor o amor a passar o coração no moedor de carnes. 

Maldita liberdade azul e infinda! 

Agora Cordélia começava a ser feliz, presa e nunca mais poderia correr livre , leve e solta por campos ensolarados cheios de promessas e flores do campo hipócritas e artificiais. 


Como se estivesse presa em uma planilha de Excel, agora tudo seria marcado, ordenado e previsto, certo e pronto, dentro de um quadradinho vermelho de cálculo, fórmula... 

Benditas amarras vermelhas! 

Enquanto divagava sentia suas confissões em mente que lhe ruborizarem a face alva, esboçava um sorriso muito branco que iluminava o quarto... o claustro... a vermelhidão de seu pequeno mundinho rubro.

Logo seria hora de se levantar.Acordar... as cordas... Cordélia... Como? Voltar para a cruel realidade insípida, inodora e incolor...