terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"Mulher Líquida"


(humilde homenagem para minha amada Hilda Hilst)

Derramo-me e te esvazio em desvario... rio. Sendo assim, você diz:

- se esvai...

É a mulher líquida... 
Alcoólica de si, abandona taças e copos cor de água. Assim como energia toma forma de valas, de poças e poços preenchendo o concreto não absorvível. 

Camaleoa toma diversas formas. Então se embrenha em terra e penetra formando lençóis sem camas em lama.
Quando feliz é rio, quando é de mais é mar, quando é plena é oceano. Quando é sutil é gota.

Submersa vai até as profundezas e submerge do âmago, acima das águas. 
Sua paisagem é o cais, as docas, os cascos, a deriva viva...

A mulher líquida com a frieza se solidifica, com o aquecimento derrete-se toda e se molha, mas com muito calor mesmo, evapora e você nunca mais põe os olhos nela. Não pode ser presa ou atada, dissolvida ela escapa das mãos pelos vãos, escorre... corre... pelos pés.

Líquida ela é brindada, comemorada, lembrada e sorvida. Suas borbulhas fazem cócegas nas gargantas por aí.
O marinheiro acena ao longe e “ela" se mescla à água novamente, que é para não perder a cabeça, 

senão... seria sereia... 

Madame Butterfly da Atlântida.


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