segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Ano"




Novo ano novo
Novo livro livre 
Novo mês mesquinho
Novo capítulo a capitar 
Nova semana sem sal 
Nova página pálida
Novo dia-amante 
Páginas em branco borrado 
Primeira frase fria
Primeiros novos momentos mornos
Primeiras novas linhas lépidas 
Primeiros dígitos desjejum
Primeiro respirar roto
Primeiro pulsar pensativo
Primeiro olhar ouvindo ósculos
Páginas a voarem vingativas
Mesmas pessoas impessoais
Mesmos lugares deslocados
Mesmos móveis imóveis
Mesma rotina diversificada
Mesmo tédio tripudiante
Mesmas outras bocas bélicas
Mesmos diferentes corpos circo
Páginas para um não reescrever retilíneo
Novos primeiros passos parcos 
Sobre o gelo que se parte perdendo-se...
Página que começa assim azul...
Era uma vez vida...
Um novo mundo mais...
Éramos nós ninguém...
Adão e Eva num infernal/paraíso... 
Páginas queimam sobre o gelo an-gelical. 
O novo se congela sob o fogo-fátuo.






terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"As Areias doTempo"


(texto criado e publicado há alguns anos, creio que ainda esteja atual)


Mais um ano se inicia, mais um janeiro, novo capítulo de nossas vidas, para ser escrito, vida essa da qual nós somos os autores, ou co-autores. Seria Deus, o roteirista de nossas vidas.? Será que quando nós nascemos, Ele, já sabe qual será o nosso último capítulo? Devemos acreditar em destino ou em algo pré-destinado? A lei do livre arbítrio, onde evitamos, antecipamos ou impedimos algo já previsto em nossa vida.

Lembrei-me deste título, de um best-seller do saudoso Sidney Sheldon, "As Areias do Tempo", é incrível como o tempo passa rápido e segundo os mais velhos, passa cada vez mais depressa. São os grãos de areia que correm e escorrem pela ampulheta. Segundo Miguel Falabella na continuação da peça teatral, "A Partilha" – as personagens surgem certo tempo depois em "A Vida Passa", título bem sugestivo.

Talvez  por isso não podemos perder um só segundo, impossível porque muitas vezes precisamos estarmos sós. É muito importante se estar, e gostar de estar só e consigo mesmo, deve ser a nossa melhor companhia. Afinal, você vive com você mesmo por 24 horas do dia, mais de 360 dias no ano para o resto de sua vida. Nós só descansamos de nós quando dormimos ou partimos dessa para a cobertura. As vezes parecemos estar sozinhos no mundo como no romance "Blecaute" de Marcelo Rubens Paiva.

Ainda bem que as areias do tempo trazem marcas na face e no corpo, nos cabelos, no RG, mas devem trazer a sabedoria que faz com que deixemos - ou devemos pelo menos – deixar de cometer os mesmos erros, cair nas mesmas ciladas da vida. Assim podemos escolher as melhores companhias de acordo com a ocasião, aqueles para festas, aqueles para um ombro amigo. Assim como Louis aprende em "Entrevista com Um Vampiro" de Anne Rice - na literatura e no cinema. O tédio de ser imortal e viver a mesmice de uma eternidade onde se atravessa épocas, gerações. Lembrando também de "Orlando, A Mulher Imortal" de Virginia Woolf – na literatura e no cinema.

Na verdade nos foi prometida a vida eterna em várias filosofias e religiões, seria entediante se fosse sempre neste planeta, afinal a tecnologia evolui cada dia mais, e o ser humano, espero que também evolua, em passos de formiga, mais acredito que esteja em evolução. Mas somente sem o material, um bem que todos nós gostamos, é o que provoca essa não evolução, como a corrupção, entre todos os demais crimes que levam pessoas a perdas infinitas devido o desejo de se ter, possuir e querer o que não é seu por merecimento, direito ou conquista.

Como dizia Cazuza, vamos pedir piedade por quem veio ao mundo e perdeu a viagem. Já que é impossível passar incólume por essa viagem, o melhor é tirar o bom proveito  e caminhar inerme por essa excursão pelas dunas - das... areias do tempo.