sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"Chá"






Não da mais pra engolir, esta parado na garganta, não desce, não se mexe, não flui, não vai... 

não segue a diante, está parado, estático, inerte, prostrado. 

Mesmo assim finjo que não vejo, faço que não sei, o faz de conta de quem não conta com o não fazer. 

Olho ao redor e nada digo, não insisto mais em tentar engolir, então você fica bem ali, massa inútil, bolo parado, fragmento seco, engasgado, enroscado, atravancando, impedindo que tudo siga o seu rumo. 

Talvez eu deixe de respirar por isso, ou engula com uma xícara de chá, inteira com a porcelana junto, além do líquido. 

Talvez cuspa arremessando longe, talvez vomite pensando em Linda Blair.

Assim mesmo seguirei adiante impassível, você não, continuara sendo o bolo indesejado. 

Por favor, garçom! Mais um chá! Já ouviu falar em chá?

Tcha... tcha... tcha! 

Chica boom!





sexta-feira, 1 de novembro de 2013

" A menina e os pássaros"





Os pensamentos da menina, voam como pássaros e assim insistentemente circulam a sua volta, nem ameaçam parar, são a roda gigante incessante, o carrossel impossível e desgovernado, um desfile bendito/maldito de sonhos.


A menina não mais os tolera, não mais os doma, malditos/benditos, com as mãos desesperadas tenta afugentá-los, mal ameaçam partir e já estão presentes atormentando-a. Muitas vezes parecem dóceis, n’outros momentos são insanos, imundos, ásperos, voam em desespero e se dispersam num caleidoscópio visceral.


Manada, matilha, cardume, revoada de pequenos demônios/anjos famintos de uma mente, se dispersam e entram dentro de sua saia, e lá desaparecem dentro de seus desejos, na fome/sede de seus dias, suas ideias vãs, memórias de menina viva, pensamentos de menina/morta, viva do querer voar, morta de vontade de pecar, sonhos molhados.


Sua trança é a corda para que meninos imbecis se enforquem, madeixas de gueixa que para sem queixa se afoguem na floresta sedosa arredia. Sua pele tão alva é a neve que congela coraçõezinhos infandos, lábios rosados de cima abaixo são a sombra do mal, a delícia do mel.


Por hora põe os pensamentos úmidos na gaiola e os tranca, castigados, presos... 

loucos para fugirem e se debaterem...  por aí, 

pulsando... 

                   bicando... 

                                   alados... 

                                                ardendo...