No quarto frio de literatura suja, de beira estrada, esperava "ele" por alguém. Enquanto a noite não se calava, inquieta... arredia... incessante... notívaga e galopante em seus cascos a ecoarem nos labirintos de sua mente.
A TV sórdida, num canal decadente, exibia um filme vagabundo
sobre um romance marginal, era a hora da boca que não se calava, suspirando
afoita em desejos vãos.
"Ele" ficou ali por horas imóvel e impassível esperando pelo
cavalo do príncipe, sim, cavalos existem, príncipes não mais.
Depois de tempo indeterminado, o cavalo chegou e o pegou ali
seminu, o colocou sobre seu lombo e saiu trotando.
No trajeto íngreme e irregular, transitou entre seus sonhos
equinos e flashes tão repentinos do filme ordinário, o que o fazia acreditar que
estava a caminho de casa, era o trotar do seu amante em meio a poeira da
estrada sem fim.
Logo "ele" seria de seu cavalo, somente, sem pensar em sonhos
ou príncipes e então novamente ficaria só e assistiria a TV chuviscada exibindo
imagens de pessoas normais em situações comuns, coisa que não existe.
O que restava de esperança no canto sujo e empoeirado da memória, não era nenhuma claridade luminosa, mas sim um detalhe daquele último quarto de motel, a reconfortante luz amarelada...
O que restava de esperança no canto sujo e empoeirado da memória, não era nenhuma claridade luminosa, mas sim um detalhe daquele último quarto de motel, a reconfortante luz amarelada...
"Ele" sabia que era apenas pó, seu amante fugia, sumia, mas na abstinência voltava para aspirá-lo com voracidade de fera faminta e lhe era doce e o levaria para onde fosse, e ele assim esperaria sempre imóvel como pó, pensando em luzes amareladas, daquelas que matam borboletas bobas assim como "ele" mesmo.
Um filme longo de madrugada infinda...