quarta-feira, 24 de março de 2010

"O Atraso"




Não é com descaso
Que falo do atraso
E sim com esperança e verossimilhança
Falo do atraso do que nunca se deu
Do descaso da sorte
Do relaxo do tempo
Da despreocupação dos anjos
Ou da árdua atenção de pequenos demônios
Pode não ser bem assim
E sim antônimos e sinônimos
Falo do que estava em anexo
Do passado côncavo e do futuro convexo
Sem complexo, sem amplexo
Foi tudo culpa do que não se pode culpar
A tempestade que despencou
O ônibus que não parou
O pneu que furou
Ou o táxi que passou reto
O buraco no caminho do concreto
O molho de chaves que no último segundo desapareceu
O carteiro que foi atacado pelo cão Dirceu
Sendo assim tudo não se deu
Nada de tudo aconteceu
Quando ele se foi
Você apareceu
Na hora certa, no local exato
As horas, os minutos, os segundos erraram 
e pagaram o pato
Ponteiros traidores conspirados com cães mordedores, 
Motoristas escapistas, asfalto e nuvens com rancores
Fizeram com que não nos encontrássemos
Não nos amassemos
Não nos odiássemos
Não nos sentíssemos
Agora em não pensada hora nos damos de cara 
Numa imprevisível esquina qualquer da metrópole
E agora? 
O que faço?
Tiro o atraso?


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