quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Fast Food – Fast Fuck"


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(Crônica selecionada e publicada no livro "Crônicas da Minha Rua", 
Editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores em 2009).

"Sou um homem, ou sou um hambúrguer? Eis a questão."

Fast Life - Eu preciso comer! Sim, precisamos comer! Precisamos nos preencher. Preencher nossos ouvidos com música. Estampar nossos olhos com coisas belas. Cobrir nossos corpos com roupas de alguma moda. Usar alguns acessórios de alguma tribo. Encher nossos corpos de sexo e prazer, mesmo que ruim. Encher nossos pulmões de ar puro e ar poluído, muito alcatrão, nicotina e monóxido de carbono. Preencher as palmas das mãos, com objetos desejáveis das mais diversas espécies e texturas. Preencher nossas mentes com alguma ocupação. Preencher nossos espíritos com qualquer tipo de filosofia ou religião. Preencher nossos estômagos com comida. Algum tipo de comida. Algum tipo de diversão. Algum tipo de arte.

Fast Question - Para resolver esse imenso conjunto vazio... Algo que nos toma e nos invade. Uma lacuna universal. O buraco negro do universo. Talvez menor, o buraco da camada de ozônio. Como, se não temos tempo para isso?

Fast Work - Para resolver esse imenso espaço impreenchível... Preciso trabalhar. Preciso preencher minha carteira, meus bolsos, minha conta bancária. Trocar de celular. Trocar de carro. Mudar para um lugar maior. Poder preencher todos os espaços vazios. É preciso preencher a solidão. É preciso se preencher de alguém. De “alguéns”... - O tempo passa. No trabalho os ponteiros do relógio parecem rastejar. No fim de semana, nenhum segundo pode ser desperdiçado. Fast Food! Tic Tac! Fast Tic! Fast Tac! Fast Fast!

Fast Money - Para se ter tudo isso, não há tempo! Pois se tem que trabalhar para viver e pagar tudo isso. Estudar mais, para subir mais e mais, para poder ganhar mais. No minúsculo tempo que resta, preciso preencher todos os outros espaços. Tenho que fugir do trânsito. Driblar a violência. Escapar do stress, do triglicéris, da depressão, da hipertensão, da tensão, da falta de atenção, das neuroses. Para resolver esse imenso problema insolúvel... Preciso de distrações rápidas, que me façam esquecer de todos os problemas. Um verdadeiro “Parque das Diversões Instantâneas”. Preciso de soluções?

Fast Solution - Então corro rapidamente em busca de - filmes rápidos e cheios de ação e efeitos especiais, nada que me faça pensar, nada que eu precise entender. Livros, somente os curtos, rápidos. Roupas, acessórios, não há tempo para provar. A entrega tem que ser rápida. Então compro pela internet tudo o que preciso. Comida só delivery, assim não saio, assim driblo o trânsito e a violência. Músicas, só as agitadas, para que eu não relaxe, não reflita. Caso eu não relaxe nunca mais, procuro um médico rápido, com remédios rápidos e rapidamente estarei bom.

“A insustentável leveza do ser” - Mas ainda estou vazio! Preciso comer! Comer algo. Comer alguém. Um hambúrguer. Um homem. Tanto faz. Que tal - Dois homens, alface, beijo e molho especial, cebola e pic... Ops!!! Picles num pão com lençóis de cetim ou um colchão com gergelim. Tanto faz. É “O Homem Que Come”. “O Abaporu”. O movimento antropofágico e incessante que existe – como uma máquina de lavar – dentro de nós. Como profetizou Tarsila do Amaral.

Fast Food - Para resolver esse imenso Mac Desejo insaciável. Corro para um Mac Local. Como Mac Lanhes. Mac Refrigerantes. Mac Fritas. Mac Sobremesas. Corro para um Mac Cinema, de uma Mac Rede. Encho-me de mais Mac Refrigerante e Mac Pipoca, com muita Mac Manteiga. Vejo – não sei se assisto a um – Mac Filme, com um Mac Elenco, de um Mac Diretor – claro que com Mac Efeitos de um Mac Famoso Estúdio.

Após uma Mac Manhã e uma Mac Tarde.... Como as Mac Novidades num Mac Novo Local. Após um Mac Make-Up, vou para uma Mac Casa Noturna. Peço um número 1, um número 2, um número 3. Mac Beijos, sem saber o Mac Nome. Após dançar Mac Músicas, de uma Mac Cantora que lançou um Mac CD.

Fast Fuck – Fast Love- Tudo acaba em uma Mac Cama. Mac Beijos. Mac Amassos. Mac Foda.
Nada de Mac Sentimento. Ninguém troca números de Mac Telefones. Ninguém marca um possível Mac Encontro... - No Mac Dia seguinte – um Mac Bode. Tudo o que se precisava para começar uma Mac Semana e enfrentar o Mac Trabalho. Tudo começa novamente. Cada Mac Macaco, no seu Mac Galho. Mac Caralho!!!

Fast Time – Só o que é verdadeiro não perece. O natural ainda existe. O verdadeiro. O sensível. O nostálgico. O poético. O lento. Produtos orgânicos. Comida natural. Medicina alternativa. Tai Chi Chuan.Yoga. New Age. Discos antigos. Filmes Clássicos. Livros que marcaram esquecidos na estante ou encontrados num sebo. Flores no vaso, ou no jardim. Almoços de família. Ler poesia. Tomar chuva. Namorar e comemorar os aniversários de namoro. Abrir a janela. Abrir a porta. Abrir a mente. Abrir o coração. Viver de peito aberto.Viver...

Fast Paradise – Por uma vida menos ordinária. Tirar o pé do acelerador. Amar o máximo possível, o maior número de coisas e de seres, que realmente merecem, independente que um dia possam vir a te retribuir.

Fast End - Não ficar apenas esperando que - Num Mac Dia Ensolarado, chegue a Mac Morte. E que ela seja... Fast Death - Fast Soft.


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