segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Café... Preto"




Ao fim do dia, ela decidiu ir tomar um café... os guizos do umbrau da porta logo anunciaram que ela adentrava em seus saltos altos, finos e pretos...

A mulher branca sentou-se e cruzou as pernas por fora da saia, desnudando a brancura das coxas e panturrilhas sob a saia preta.
O homem preto sorriu com dentes muito brancos e acomodou a mão grande, aberta e preta sobre a toalha branca, dedilhando.
A mulher ficou ruborizada ao sentir-se despida por aquele sorriso, imaginando aquelas mãos pretas desbravando suas curvas de carne branca. De nervoso cruzou e descruzou mais algumas vezes suas alvas pernas - alvo.
O homem preto continuava encantado e hipnotizado a distância, quando pediu ao balconista – Por favor, um café preto! No copo - confirmou, logo depois.
A mulher branca riu por dentro, da redundância,  de decepção pediu em seguida um café expresso, - Puro! – precisou reafirmar o que já achava óbvio no pedido.
Logo chegou a decepção da mulher branca, uma mulata que o homem preto aguardava. Ele ficava tentando dar atenção as duas, um olho no leite, outro na gata parda.
Então, o homem preto precisou se acalmar, pois se soubesse que encontraria aquela mulher branca ali, nunca teria marcado o encontro com a outra. Estava fascinado pela branca, mas não poderia ser grosseiro com a mulata. Então mergulhou os lábios rosados por dentro e pretos por fora no leite branco espumante, sorvendo tudo como se sorvesse a sonhada pele da mulher branca, daquela tarde que surgia tardiamente em sua vida.
A mulher branca em meio às chamas do peito, não tinha mais o que fazer ali, então partiu sentindo que deixava algo pra trás. 
A noite ela dormia acordada ao lado de seu marido branco.
O homem preto depois de duas infelizes tentativas de saciar o desejo, e por que não? Encontrar  a mulher de sua vida... Tentava inutilmente dormir ao lado da mulher preta cor de grãos de café.
Naquela noite, em cada lado da cidade o homem preto e a mulher branca sonharam em preto e branco. Ele nela. Ela nele.
Pela manhã branca...
O homem preto pensou na mulher branca, em frente ao espelhou se empolgou, se empolgou... um exato minuto depois, derramou assim o líquido branco, banhou-se, perfumou-se e vestiu seu uniforme branco e foi trabalhar.
A mulher branca vestiu seu uniforme preto de todos os dias cinzentos, mas desta vez tinha um propósito mais nobre - enterrar o marido.

Ao fim do dia, ela decidiu ir tomar um café... sentou-se ao balcão e pediu – por favor, um café... preto! Sentiu o líquido quente e saboroso ser sorvido entre seus lábios acompanhado do aroma que envolvia todo o ambiente.

Instantes depois, porta se abria denunciada pelo tilintar dos guizos suspensos no umbrau, sapatos grandes largos e brancos adentravam...





sábado, 11 de junho de 2011

"sob toldos e marquises"




Dia desses
Tarde dessas
Chovia incessantemente
Porém assim garoa
Minhas ideias insanas não paravam de gotejar
Inquietude respingava
Chuvisco irrequieto
Então sai por aí
Sem guarda-chuva
Pois queria caminhar livre
De pesos ou encargos
Nada queria levar comigo
Por isso caminhei sob toldos e marquises
Estamos sempre procurando algo pra nos proteger.