quarta-feira, 4 de abril de 2012

"A Volta da Mulher/Coelha"





Nunca me esquecerei da Mulher/Coelha, matriarca faminta e voraz. Protetora, acolhendo todos a sua volta nas noites frias. Ainda que velha, cheia de filhos, netos, e bisnetos a procriar, a procriar, multiplicando-se a se espalhar, povoando selvas/cidades de si. 

Só me lembro dela anciã a espiar os rebentos no quintal tomado pelo mato do semiabandono, armários de madeira envelhecida a céu aberto com portinholas e janelinhas escancaradas e caídas revelando os bichos. Eles... lá dentro... arquivados, de todas as cores e tamanhos, quase imóveis se não fosse pelos narizes inquietos. Na noite o vermelho dos olhos disputava com o brilho das estrelas. 

Ela orgulhosa espiava da janela da cozinha, já idosa com seus olhos grandes e reluzentes, a boca/nariz disposta como focinho e as orelhas que cresciam com a idade, baixinha, gorda, arcada e insaciável...

No passado, antes da cidade, afoita e jovem, roedora e notívaga caçava nas matas, nua em pelos e voltava pra toca/casa só ao amanhecer, alegre e saltitante com a boca suja de sangue, insatisfeita com a dieta de cenouras, assim dormia ao lado do marido que fingia não saber.

Nunca me esquecerei, ela já se foi e estive em sua casa, mas ela sempre volta saltitando em meu pensamento... coelha... alegre... lebre... leve... roendo fios de memórias.



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