segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"A Fábula da Menina do Porão"





 (texto criado por volta de 1.990)


Havia uma casa,

Sob ela seu porão

Feito de poeira e solidão.

Nele uma menina,

Um anjo de asas cortadas

Em brancas vestes,

Uma camisola de algodão.

Num castigo eterno,

Desconhecia o fraterno,

Sua mente de sonhos era vazia,

Somente um pesadelo

De tristeza e agonia,

Que anoitecia e amanhecia

E que a menina nunca assistia,

Pois a janela no alto ficava

E ela mesma quando tinha forças

Já não a alcançava.

Ela ficava sobre um móvel,

Velho e ameaçado

Por cupins famintos que aos poucos

Devoravam sua isolada ilha.

Pois quando a noite caía,

Um exército de ratos

Com olhos vermelhos e reluzentes surgia,

E ela ali ameaçada

Sobre sua frágil ilha,

Cercada pelo mar maligno.

No teto do porão,

Pombos brancos a sobrevoavam,

E aflitos começavam a se debater,

Era uma legião

De pequenos anjos inúteis

Que diziam não poder

Por ela nada fazer.

Apenas pombos,

Cada vez que apareciam,

A desolada menina se lembrava

Que havia vida e liberdade

No mundo lá fora.

Junto com o estranho sol,

Os pombos brancos partiam

Aos poucos indo embora,

Os ratos vinham com a desconhecida lua.

Às vezes um pombo inocente e retardatário

Se esquecia da hora,

E deveras atrapalhado em seu vôo

De repente no chão caía

E a menina a tudo assistia.

O anjo sem asas,

Virgem e prisioneiro,

Abandonado em sua ilha

Que aos poucos se desfazia

Pelos cupins cúmplices da maldade
Que gargalhavam intospectivos em conjunto.

Ela observava em estado apático

Os pequeninos anjos brancos

Que aos poucos eram devorados.

Uma guerra santa,

Uma legião de frágeis anjos

Contra o exército de Lúcifer.

As penas brancas aos poucos

Tingiam-se de vermelho,

E suas vísceras sendo aos poucos

Arrancadas e engolidas

Juntamente com suas almas,

Pelos pequenos demônios famintos.

Vorazes, parecidos com os seres humanos.

Já que as pequenas e brancas criaturinhas

Por ela nada podiam fazer,

Com os representantes do mal,

Um acordo ela fez

E quando sua carcereira

Que vinha todos os dias para confirmar

E rir da desgraça de sua prisioneira,

O anjo mau a entregou as feras.

A sensação de liberdade deu a ela

As forças de que precisava,

E assim correndo fugiu

Sem olhar para trás.

Mas não resistiu,

Pôde ver na escuridão

As pequenas e agitadas

Estrelinhas vermelhas.

E para o mundo ela correu

Deixando um longo caminho,

Um rastro de pegadas de sangue.



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Tudo..."



É tudo que detesto...

As...



As vacas puras

Que nos deleitam


As facas ruas


Que nos apontam


As marcas tuas


Que nos estampam


As luas nuas


Que nos sorvem



As palavras chulas


Que nos deglutem


As noites mudas


Que nos sussurram tanto


As faltas brutas


Que nos desapontam


As pautas turvas


Que nos enporcam


As retas curvas


Que nos perdem

As pacas putas

Que respondem por nós
 




As...


É tudo que quero...


Uma luz...


Uma porta...


Uma escada...

Uma ilha...







Não importa...