(texto criado por volta de 1.990)
Havia uma casa,
Sob ela seu porão
Feito de poeira e solidão.
Nele uma menina,
Um anjo de asas cortadas
Em brancas vestes,
Uma camisola de algodão.
Num castigo eterno,
Desconhecia o fraterno,
Sua mente de sonhos era vazia,
Somente um pesadelo
De tristeza e agonia,
Que anoitecia e amanhecia
E que a menina nunca assistia,
Pois a janela no alto ficava
E ela mesma quando tinha forças
Já não a alcançava.
Ela ficava sobre um móvel,
Velho e ameaçado
Por cupins famintos que aos poucos
Devoravam sua isolada ilha.
Pois quando a noite caía,
Um exército de ratos
Com olhos vermelhos e reluzentes surgia,
E ela ali ameaçada
Sobre sua frágil ilha,
Cercada pelo mar maligno.
No teto do porão,
Pombos brancos a sobrevoavam,
E aflitos começavam a se debater,
Era uma legião
De pequenos anjos inúteis
Que diziam não poder
Por ela nada fazer.
Apenas pombos,
Cada vez que apareciam,
A desolada menina se lembrava
Que havia vida e liberdade
No mundo lá fora.
Junto com o estranho sol,
Os pombos brancos partiam
Aos poucos indo embora,
Os ratos vinham com a desconhecida lua.
Às vezes um pombo inocente e retardatário
Se esquecia da hora,
E deveras atrapalhado em seu vôo
De repente no chão caía
E a menina a tudo assistia.
O anjo sem asas,
Virgem e prisioneiro,
Abandonado em sua ilha
Que aos poucos se desfazia
Pelos cupins cúmplices da maldade
Que gargalhavam intospectivos em conjunto.
Ela observava em estado apático
Os pequeninos anjos brancos
Que aos poucos eram devorados.
Uma guerra santa,
Uma legião de frágeis anjos
Contra o exército de Lúcifer.
As penas brancas aos poucos
Tingiam-se de vermelho,
E suas vísceras sendo aos poucos
Arrancadas e engolidas
Juntamente com suas almas,
Pelos pequenos demônios famintos.
Vorazes, parecidos com os seres humanos.
Já que as pequenas e brancas criaturinhas
Por ela nada podiam fazer,
Com os representantes do mal,
Um acordo ela fez
E quando sua carcereira
Que vinha todos os dias para confirmar
E rir da desgraça de sua prisioneira,
O anjo mau a entregou as feras.
A sensação de liberdade deu a ela
As forças de que precisava,
E assim correndo fugiu
Sem olhar para trás.
Mas não resistiu,
Pôde ver na escuridão
As pequenas e agitadas
Estrelinhas vermelhas.
E para o mundo ela correu
Deixando um longo caminho,
Um rastro de pegadas de sangue.
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