Aracy, ao contrário de
Cordélia que sempre teve tanta liberdade que um dia se opôs a ela, a mais nova
hóspede da mansão vermelha tem uma história bem diferente. Aracy sempre viveu
reprimida pela educação do pai déspota numa pequena cidade do interior,
distante numa fazenda. O quanto antes quis se casar para se libertar, e assim
conseguiu...
O que Aracy não sabia
era que o homem que havia escolhido rapidamente, era possessivo, obstinado e que
imaginava coisas com frequência, como se ela fosse fútil e vazia e olhasse para
todos os homens vulgarmente. Talvez isso se devia a traição de sua sogra, a qual
nunca conheceu, foi banida pelo pai de seu amado.
O destino um dia lhe
favoreceu, quando achava que nunca mais se libertaria dos déspotas e ditadores
de sua vida, seus carcereiros de merda, a sorte do acaso surgiu, seu marido
também fazendeiro foi traído. Ele que amava o gado acima de todas as coisas, por
um touro foi traído, sem chances de defesa, a sombra dos cornos na luz do sol
sobre o pasto pareciam mais a presença de Lúcifer que havia vindo para
salvá-la.
Aracy sempre havia
orado para Deus, e para o Diabo quando cansou de pedir ao céu, que seu pai fosse
levado, depois que seu marido fosse levado. Quando deveria comemorar por
dentro, caminhou inabalável diante do touro desafiando-o deitou-se no pasto e
como no quadro de “Pietà” confortou o falecido em seu colo, o beijou, e se
marcou com seu sangue, nele ainda, os arames farpados da cerca da qual seu homem
tão odiado tentara escapar. Tentara...
Agora Aracy agonizava
por ser livre, se acostumara ao claustro, a liberdade era um dissabor, desejava
o marido morto, suas mãos, suas amarras invisíveis. Então sendo assim se
entregou ao tal endereço rubro e numa sala de mesma cor, se envolvia nos arames
farpados que lhe prendessem, que lhe punissem, que lhe causassem dor, a dor da ausência
do amado censor, seu torturador anônimo invadia o quarto.
Aracy ardia em desejo,
a máscara dele permitia que ela imaginasse que ele ainda estava vivo, seu
marido, seu pai, déspotas, despida de roupas, vestida de desejos, agonizava
ansiosa. O vermelho do claustro a fazia recordar do sangue do amado, suas chagas que
limpara, agora queria as suas, as suas chagas da purificação.
Aracy, arames,
espinhos, aleluia, agora se sentia viva, conseguiu sorrir aos primeiros toques
frios do invasor e ruborizou-se imaginando como seria se “eles” estivessem ali
assistindo tudo...
Hosana nas alturas!
Hosana nas alturas!
Ótimo texto Póvero!!! Parabéns!
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