O peso das horas acaba por escapar a todo instante, do vão da vida, cada
segundo, o tic-tac insuportável não deixa ninguém se esquecer disso.
A volta da Mulher Hora marca este tempo incessante, seus
braços ponteiros pontiagudos retornam para reforçar que é chegada a hora, ela a
filha única, a herdeira do falecido relojoeiro daquele vilarejo.
Agora chega para
acertar as horas, com todos os doze números, seja meio dia ou meia noite, sejam as inocentes três horas da tarde da tenra idade ou as pecamminosas três horas da
madrugada dos insaciáveis e dos mortos, tudo culmina no despertar.
O relojoeiro que morreu de desgosto olhando para o cuco, ave desgraçada, que gritava e ocultava os berros da Mulher Hora.
Agora ela vem tanto tempo depois e acerta as horas com
cada um dos doze e coloca seus ponteiros em seus devidos lugares dando a cada
um o merecido "não despertar".
Assim como as areias do tempo a escorrerem pelas infindas
dunas de areia da ampulheta, ela se esvai, escorre e desaparece como o tempo
perdido, a infância esquecida, as espinhas da adolescência, os espinhos das
primeiras rosas vermelhas, a primeira vez com os doze que romperam a aurora sem
avisar... sem pedir.
Entraram em seu tempo, invadiram sua vida, rasgaram suas
horas... ela deitada no centro da sala redonda.
Doze números mortos... em algumas horas, a volta da
Mulher Hora em minutos e sua partida em segundos... no eco do tempo...
O peso do grande relógio do decorrer da vida encarquilhando as costas.
Isso já faz tanto tempo... será agora a hora de acordar?
Ou de dar corda? Não vejo a hora...
Tic... tac...
Tic...
Tac...
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