O balanço dança só, no ar, em balé solitário de monólogo calado. Há somente o assovio de vento parceiro que o faz dançar. Valsa insana de pés pra cima, de pernas pro ar, pernas de brisa. O balanço sussurra:
-Danço, danço... (inesgotável e incessantemente)
Como se houvesse alguém recostado em seu "não espaldar", costas ao leo, balanço que balança as ancas da ventania, balanço que brinca com a bala na boca, bala de gosto de tempestade.
balanço...
balança...
bala...
balanças...
ancas...
balanço...
canso..
danço...
balanceio...
anseio...
balanceio...
anseio...
Talvez fosse a brincadeira da fada que habitava o parquinho decadente. Talvez fosse a menina morta em seu primeiro passeio vespertino.
Desembala a bala.
Desembeleza a morta.
Desassossega a fada.
De repente o vento para, o balançar cessa, solas do pé para o crepúsculo, mergulho infindo.
O assovio torna-se cada vez mais música incidental para adormecer fadas e embalar meninas mortas.
Acaba a bala. Papel transparente e pequenino ao vento.
Tempestade chega com gosto de terra molhada.
Sorri a fada côncava dentro da árvore.
Canta a menina morta convexa no meio da chuva.
Balanço dorme em doce canção de ninar...
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