As penas dos travesseiros são de gansos mortos que um dia tentaram voar. Agora as penas ainda plainam sob o teto parando... no ar. Travesseiros sem recheios estão sobre o chão, trincheiras murchas desativadas. Lençóis amarfanhados são a fotografia do sexo petrificado e inútil, maracujás de gavetas. A lavanda se mistura ao nosso cheiro impregnado e apagado pelo tempo, assim como prováveis marcas de batom ou gozo, ideogramas sórdidos da luxúria perdida. Seus chinelos deixados para trás tentam caminhar para uma escapada. A cama está gigantesca e cresce mais a cada dia, obesa Godzila confortável de agonia. O som da porta que fechou ainda canta em adágio silencioso, violinos sarcásticos e maldosos, são apenas pernilongos zunindo zombadores. Os cômodos pequenos também agora cresceram e se tornaram castelo de vastos salões, amplos corredores, tetos de tantos andares. Ainda há a sensação que tuas mãos leem em braile meu corpo, seu antigo livro de cabeceira. O criado mudo, testemunha calada se abstem da culpa.
Agora consigo esboçar leve sorriso descobrindo que a cama tem cupins, eles comem, roem, trituram e se fartam em insecta santa ceia. Comemoro, bebemoro e assisto ela ser consumida como biscoito de wafer...
A arrumadeira bate a porta, quer arrumar a cama, já que a tarde se esparrama, então murmuro - tarde demais, a cama está desfeita...
A arrumadeira bate a porta, quer arrumar a cama, já que a tarde se esparrama, então murmuro - tarde demais, a cama está desfeita...
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