sexta-feira, 12 de julho de 2013

"Doce partida de quem nunca chegou"






     Hoje eu ouço as teclas do piano como a água corrente que desprende e acalma. Bonança pós tempestade. A tal água lava a sonoridade do que já foi dito e nunca se escreveu. As doces palavras na boca do ouvido úmido, monólogo sucumbido de saliva quente sobre outro corpo assim como:

- Saudades...
- Te adoro...
- Adoro te fo...
- Beijos...


     Agora de tua presença há somente o tal Vazio na rua, o senhor Silêncio na sala, certo e possível Frio na cama.
     Depois de colocar meu coração no moedor de carnes pra rechear pastéis e fritá-los, sapateio, como Fred Astaire, gargalhando sobre as quireras  de sua passagem (quisera eu insignificante).
     Concluo então que é impossível se perder o que nunca se teve ou mesmo sentir a dor do que nunca foi amor, ou então dar adeus com lencinho branco na mão a quem nunca partiu de qualquer estação, o estar são. Carro sem rodas, barco sem velas, estação abandonada, coração... cor... ação...

     Pois ninguém parte se nunca chegou. Bagagem nunca concluída, malas nunca desfeitas. Aeroporto em pós guerra.

    Cinzento jardim de destroços bélicos, futuras infames flores nefastas de amanhã.

    Olá pra quem vai... 

   Adeus pra quem chega...


    Ainda bem! Há o piano incessante incansável... esbravejando em delírios...




Um comentário:

  1. Nao houve quem partiu... Mas houve quem ficou a esperar e esta, é de certa forma uma partida... lançar-se na expectativa é ir em busca e ir em busca é partir... A sua cônica conduz o leitor a um universo multi e ao mesmo tempo único. Muito bom viajar nas linhas (trilhos) desse trem que nos leva ou nos quer levar... Parabéns!

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