sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

"O vendedor de livros..."




O vendedor de livros vendia livros.

Sim o vendedor de livros vendia livros repletos de palavras. Com certeza o vendedor de livros vendia livros repletos de palavras compostas de letras. É claro que o vendedor de livros vendia livros repletos de palavras compostas de letras, e muitos pontos, vírgulas, travessões... 
e etc. 
e etc. 
e etc...

Obviamente o vendedor de livros vendia livros repletos de palavras compostas de letras, e muitos pontos, vírgulas, travessões... 
e etc. 
e etc. 
e etc....
que expressavam ideias, que podiam ser poemas, contos, crônicas, romances.

O vendedor de livros vendia sonhos.

O vendedor de sonhos vendia livros. Sim o vendedor de livros vendia sonhos repletos de imagens. Com certeza o vendedor de livros vendia livros repletos de imagens compostas de gestos. É claro que o vendedor de livros vendia livros repletos de imagens compostas de gestos, e muitos olhares, ações, dizeres... 
e etc. 
e etc. 
e etc....

Ninguém mais comprava livros porque ninguém mais lia livros.

O vendedor de sonhos e livros não vendia mais livros e sonhos. Sim o vendedor de livros não vendia mais sonhos repletos de imagens. Com certeza o vendedor de livros e sonhos não vendia mais livros e sonhos repletos de imagens compostas de gestos. É claro que o vendedor de livros e sonhos não vendia mais livros repletos de imagens compostas de gestos, e muitos olhares, ações, dizeres... 
e etc. 
e etc. 
e etc....

O vendedor de livros morreu de fome por falta de dinheiro para comprar alimentos e a cabeça repleta de sonhos. O mundo morreu de fome de sonhos com a barriga repleta de alimentos.

Um mundo de livros a voarem como folhas secas ou não em meio aos sonhos perdidos e espalhados na solidão.

O vendedor de livros vendia livros... disse um sobrevivente que o encontrou balbuciando estas últimas palavras.

O vendedor de livros vendia sonhos...

e etc.

e etc.

e etc....
...






2 comentários:

  1. Muito bonito.
    O vendedor de livros sonhava que vendia sonhos, quando todo mundo parou de sonhar e só comprava o que sonhava porque comprou a ideia dos sonhos dos outros.
    Quando o sonho passou a ser coletivo, todos deliravam. E ninguém mais sonha com nada.

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