Ela sempre esteve presente... por ali mesmo, na sala, nos quartos, na cozinha, na área de serviço, na varanda às vezes, muito na cozinha, quase sempre na área de serviço, muito pouco na rua, muito mesmo longe dali, quase nunca em outro lugar. Olhava para a jabuticabeira do quintal e se sentia igual, enraizada, dava sombra, frutos, imponente...
Sim ela sempre havia se mantido aparentemente a esposa perfeita, a melhor mãe do mundo, todos comentavam, seus pratos, bolos, as roupas impecáveis.
Um dia acordou e quis ser mais, ser bonita, ser vista pelos outros, não ter horários, sentia falta de reconhecimento, um reconhecimento que não fosse de cozinheira, lavadeira, passadeira, faxineira...
Um dia acordou e quis ser mais, ser bonita, ser vista pelos outros, não ter horários, sentia falta de reconhecimento, um reconhecimento que não fosse de cozinheira, lavadeira, passadeira, faxineira...
Sempre havia estado ali, mas sempre havia viajado nas páginas de sonhos, outros países, outros homens, aventuras, mistérios, paixões... ia, voltava, partia, retornava, seguia, chegava...
Havia chegado a hora de vivê-las, deixou um bilhete longo e bem explicado, cheio de amor, quase não levou nada, pois não gostava quase de nada que tinha. Fez uma retirada na conta conjunta e pegou seu destino, o qual não fazia ideia, desconhecia.
Agora sim partia para o que sempre existiu, o cenário fora de seu jardim, externando suas raízes, quase se preocupou até se lembrar que não queria pensar em obrigações ou num ponto de chegada. Sim, um dia voltaria, deixou avisado, só não sabia dia, mês, ano...
Sorriu pra a placa que se afastava e avisava a distância da cidadezinha que deixava pra trás. Logo se lembrou de que havia esquecido algo no fogo pela primeira vez e algo explodia a distância incendiando o lar doce lar.
Respirou fundo, se escondeu atrás dos óculos escuros assoviando “My Way”.
Muito bom... O nome disso é coragem!
ResponderExcluirObrigado, abraço.
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